Encontro inédito aponta o caminho para criação e implementação de políticas públicas que impulsionem a gestão esportiva de forma permanente e sustentável no Estado de São Paulo.
Por Paulo Pinto / Global Sports
31 de agosto de 2024 / Curitiba, PR
O dia 23 de agosto foi uma data histórica para esportistas e profissionais das áreas de pesquisa, educação física e saúde ligados, de alguma forma, à gestão esportiva. O evento, realizado pela Associação dos Secretários Municipais de Esportes de São Paulo - Asemesp, com o apoio da Universidade Anhembi Morumbi, reuniu no Teatro Gamaro, na capital paulista, importantes lideranças e autoridades esportivas do Estado.
Por meio de palestras, painéis e homenagens a líderes da prática esportiva e entidades do terceiro setor, o I Congresso de Administração Pública e Privada do Esporte não apenas estabeleceu um marco significativo para a condução do esporte no Estado de São Paulo nos próximos ciclos olímpicos, mas também fomentou a criação e implantação de políticas públicas perenes. Este encontro foi fundamental para transformar as secretarias municipais de esporte, que atualmente dispõem dos menores orçamentos, em instituições mais respeitadas e influentes dentro da gestão pública. Além disso, ressaltou como essas secretarias, ao promoverem o esporte, contribuem significativamente para aliviar a carga e a responsabilidade social de outras pastas, como as da Saúde, Educação e Segurança Pública, ampliando o impacto positivo na sociedade como um todo.
Treze palestrantes, entre secretários municipais, gestores públicos e privados, presidentes de federações esportivas, atletas olímpicos, lideranças sindicais e especialistas do setor acadêmico, dissertaram sobre importantes temas.
Homenagens
Um dos momentos de maior relevância do evento foi a série de homenagens prestadas a atletas que honraram as cores do Brasil nas principais competições internacionais, a dirigentes esportivos e representantes de entidades do terceiro setor que têm se dedicado, com compromisso e responsabilidade, ao desenvolvimento social por meio do esporte, e a autoridades esportivas que enxergam na prática esportiva um poderoso instrumento de transformação social.
Pioneirismo da Asemesp
Jefferson Nogoseki de Oliveira, presidente da Asemesp, abriu o congresso e, após cumprimentar as autoridades presentes, destacou o protagonismo e o pioneirismo da entidade no cenário da gestão pública esportiva.
“Este congresso visa a promover uma gestão saudável e qualificada no esporte. Precisamos qualificar-nos cada vez mais. Sabemos da luta de todos que estão à frente das secretarias municipais de esporte que, por serem as pastas com menos recursos e pouquíssima autonomia, em determinados casos não conseguem sequer montar uma equipe de trabalho adequada. Contudo, nossa proposta é caminhar passo a passo, e, mesmo assim, percebemos que estamos evoluindo, conquistando espaço e reconhecimento, pois nossa pauta é 100% positiva e permeia áreas importantíssimas como saúde, educação e segurança pública. Estamos certos de que vocês sairão daqui mais preparados e atualizados para os cargos que ocupam, buscando atender bem à população de suas cidades.”
Momentos de conexão
Em seguida, o professor Robson Santana, diretor da Universidade Anhembi Morumbi, ressaltou que um dos objetivos da instituição é proporcionar momentos de conexão entre a universidade e a comunidade.
“Nós não podemos esquecer o ambiente em que estamos inseridos e nosso papel social, que é contribuir e dar retorno para a sociedade. Enquanto estivermos aqui, apoiaremos causas como esta, pois a formação e a capacitação devem ser contínuas.”
Santana explicou que a Anhembi Morumbi adota o conceito de aprendizado contínuo, pois nunca se pode parar de aprender, o que se enquadra no escopo do evento. “Recentemente passamos pelo maior acontecimento esportivo do mundo, que são os Jogos Olímpicos, e acredito que a conexão propiciada pelo esporte independe de gênero, raça ou religião. É uma conexão tão genuína que confirma nossa humanidade. Sou administrador de formação, mas admirador e fã do esporte, então, não poderia deixar de apoiar esta iniciativa. Penso que juntos conseguimos fazer muitas coisas, e nenhum ser humano faz nada sozinho. Acho que é isso que nos engrandece. Como diz Mário Sérgio Cortella, ser humano é ser junto, então vamos em frente juntos e aproveitem este evento, que foi feito com muito carinho para vocês.”
Estímulo precoce
A vereadora Janaína Lima (PP) comentou que acredita muito na sinergia entre a administração pública e a privada no esporte, e citou como exemplo a formação de Cafu, ex-lateral direito da seleção brasileira, que começou nos campinhos de futebol do Jardim Irene. “Um jovem talentoso que passou por inúmeros testes em equipes de futebol e, mesmo sem aprovação em nenhuma delas, foi resiliente e, com muita insistência, acabou aceito na base do São Paulo Futebol Clube, projetando-se no cenário do futebol mundial.”
Considerado por muitos um dos maiores atletas da sua posição na história do futebol, Cafu é o recordista de jogos pela seleção brasileira masculina, com 142 partidas. Fez parte das equipes vencedoras das Copas do Mundo de 1994 e 2002, além de ter disputado os Mundiais de 1998 e 2006.
“Vi aquele craque nascer e penso que a determinação e a disciplina que o esporte desperta nas pessoas são realmente inspiradoras e devem chamar a atenção daqueles que ocupam cargos estratégicos na gestão. Quis o destino que meu primeiro cargo público fosse na Secretaria de Esporte, Lazer e Juventude. Como coordenadora de juventude, tive a oportunidade de estreitar laços e conhecer pessoas maravilhosas que atuam no esporte e com ele têm compromisso, mas que muitas vezes não viam com clareza o alto rendimento e o incentivo à prática esportiva como instrumento social. Aos poucos, começamos a entender de forma mais concreta como a parceria público-privada pode somar esforços por objetivos comuns.”
A vereadora falou sobre um estudo britânico que comparou os países escandinavos e a América do Norte, onde o esporte é valorizado como um relevante instrumento do processo de expansão da cognição e do aprendizado socioemocional das crianças. “Também vimos recentemente no Brasil um estudo que selecionou 50 jovens praticantes de artes marciais, mostrando o rendimento superior dessas crianças após apenas 50 dias de prática”, exemplificou, citando o medalhista olímpico Henrique Guimarães, que participou do congresso e foi aplaudido pelos espectadores. Janaína Lima exaltou a performance das judocas brasileiras que garantiram medalhas em Paris.
“Meu mandato é pautado em fazer do esporte um instrumento de transformação na vida das pessoas. Defendo muito que todas as escolas tenham Profissionais de Educação Física devidamente capacitados, para que dentro das salas de aula eles possam estimular corretamente nossas crianças, promovendo seu desenvolvimento integral. E o momento certo para isso é na pré-escola”, concluiu a vereadora, sendo muito aplaudida.
Mais investimento
Após mencionar seu DNA de esportista, Felipe Becari Comenale, secretário municipal de Esportes e Lazer de São Paulo, deputado federal licenciado e Profissional de Educação Física, discorreu sobre o impacto positivo do I Congresso de Administração Pública e Privada do Esporte no cenário esportivo do Estado de São Paulo.
“Sem dúvida, este é um momento muito especial para o esporte. Um encontro que reúne pessoas estrategicamente envolvidas na gestão é de extrema importância para a sociedade. Minha origem é o esporte e sou muito grato por poder ocupar hoje um cargo de tamanha relevância à frente da pasta esportiva da maior cidade da América Latina. Os discursos que me antecederam destacaram que o esporte é, de fato, uma importante ferramenta de transformação, e eu sempre falo isso.”
“Vi muitas crianças envolvidas com criminalidade e drogas, e já está provado que onde há esporte esses índices caem vertiginosamente”, prosseguiu o secretário. “Mas sabemos que o esporte ainda carece de ajuda e de maior investimento por parte das autoridades. A luta é difícil, e a ajuda não chega. Claro que, aos poucos, esse quadro está mudando, mas o investimento no esporte é muito aquém do que deveria ser. Contudo, é preciso ter em conta que o prefeito Ricardo Nunes foi o gestor municipal que mais investiu na área. Todos os espaços físicos, sem exceção, estão sendo reformados, e aqueles que pertencem à rede olímpica vêm sendo ampliados para atender à demanda. Para quem não sabe, o Centro Olímpico do Ibirapuera é a maior entidade reveladora de atletas para o esporte olímpico, e posso afirmar que, diferentemente do que sempre aconteceu, o investimento no esporte na capital tem sido bastante expressivo. Recentemente estive em Paris, onde visitei 12 centros esportivos, e fiquei surpreso ao descobrir a similaridade entre o que existe na capital francesa e os CEUs que temos em São Paulo. Nós não estamos longe deles.”
Comenale relatou seu recente encontro com o ministro Fufuca, no qual falou sobre a Asemesp e fez uma série de reivindicações, encerrando com perspectivas muito boas. “Conseguimos uma cadeira para a Asemesp no Fórum Nacional do Esporte, e a partir de agora participaremos das políticas públicas para o setor. Isso representa um enorme avanço, permitindo que os anseios dos municípios sejam levados à cúpula do esporte nacional, para que as políticas públicas caminhem em consonância com as necessidades locais.”
Portal para outra realidade
Há dois anos à frente da Secretaria de Esportes do Estado de São Paulo, a coronel Helena Reis disse que considera o I Congresso de Administração Pública e Privada do Esporte uma iniciativa importantíssima para capacitar cada vez mais o setor público para atuação junto à população.
“Sem a atuação municipal o esporte não cumpre seu papel dentro da sociedade e cito como exemplo a visita que recebi na quarta-feira (21) da atleta Gabriele Santos, uma moça negra, nordestina, que recém-retornou de Paris. Embora não tenha sido medalhista em sua modalidade, o salto triplo, ela contou sua trajetória e revelou que é bolsista do programa Talento Esportivo do Estado de São Paulo, dizendo que o simples fato de estar entre os principais atletas do ranking mundial já é uma grande vitória. Ela treina no Centro Olímpico e tem alguns patrocínios privados, ou seja, reúne justamente aquilo que vamos debater hoje: a junção e a parceria do setor público com a iniciativa privada, incentivando o fomento da prática esportiva desde de sua base.”
“A história da Gabriele me remeteu ao início da minha carreira na capital, quando trabalhava no centro da cidade e conduzi uma menina grávida com somente 11 anos ao amparo maternal. Na sua inocência ela falou que havia consentido a relação sexual com o homem que a engravidou, como se nesta idade ela tivesse consciência suficiente para tomar tal decisão. Em contraponto a isso temos de pegar o exemplo da Gabriele que, por meio da prática esportiva e também sozinha, está edificando um caminho para sua vida e serve como inspiração para todos nós. Para enxergarmos no esporte não apenas a prática esportiva e de rendimento, mas pensarmos o esporte como política pública. Como um portal para outra realidade. Precisamos apresentar o esporte às crianças e jovens o mais precocemente possível.”
Processos licitatórios
Processos licitatórios foi o tema da primeira palestra do encontro. Saulo Augusto Turbiani Machado, chefe técnico da Fiscalização do Tribunal de Contas de São Paulo, discorreu sobre a nova lei de licitações e contratos administrativos (NLLC).
Essa lei estabelece normas gerais de licitação e contratação para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios e abrange os órgãos dos poderes Legislativo e Judiciário em todas as esferas. Para conhecer dispositivos da NLLC acesse:
Prestação de contas
Rafael Lima de Moura, também membro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, dissertou sobre prestação de contas de repasses destinados ao primeiro e o terceiro setores.
Como o tema era bastante técnico, Rafael Moura propôs uma abordagem diferente, contextualizando a importância da prestação de contas no âmbito da gestão dos recursos públicos. Ele começou comparando desempenho do Brasil nos Jogos de Paris – vigésimo lugar – com o tamanho do seu PIB (oitavo do mundo) e da sua população (a sétima maior). Como alcançar posição comparável também no esporte?
“Minha ideia é fazer uma reflexão sobre o potencial do nosso País e onde podemos chegar. Acho que tudo se alinha ao que os demais colegas já falaram aqui e diz respeito ao investimento. E de fato esta é uma questão fundamental, porém, como todos sabem, existe a restrição orçamentária. É preciso concentrar os esforços em investir bem, e isso passa diretamente pelo melhor gerenciamento possível dos recursos e pela prestação de contas dos repasses destinados ao terceiro setor.”
Para conhecer mais sobre a lei de prestação de contas de repasses destinados ao terceiro setor, clique no link: https://www4.tce.sp.gov.br/transparencia/
Arenas esportivas inteligentes
A professora e arquiteta Camila Dias dos Santos Forcellini, coordenadora do curso de Arquitetura da Universidade Anhembi Morumbi, falou sobre arenas esportivas inteligentes, harmoniosas e humanizadas.
Mestre em arquitetura esportiva e doutoranda em Educação Física e Sociedade, a professora Camila fez uma exposição bastante adequada à plateia de Profissionais de Educação Física, gestores públicos e executivos que vivenciam o esporte no dia a dia.
“Assim como vários palestrantes que me antecederam, fui atleta e o esporte mudou a minha vida, meu caráter, minhas escolhas e a disciplina que acabei adotando em minha vida. Muito por conta disso, acabei escolhendo este caminho para falar sobre instalações esportivas. Um dos pontos pelos quais inicio minha palestra é justamente o porquê de repensar as grandes arenas esportivas. Talvez seja porque estamos num ano olímpico, quando se discute muito o impacto das instalações nas cidades-sede e se questiona muito o que fazer com as arenas e a vila olímpica após os jogos.”
A professora Camila explicou que a subutilização desses equipamentos levou várias cidades a desistirem de sediar Jogos de Verão e de Inverno. Isso se tornou uma preocupação para o Comitê Olímpico Internacional (COI), visto que Paris, a cidade que sediou os Jogos de 2024, e Los Angeles, que sediará os jogos de 2028, são as remanescentes em função da desistência de várias cidades.
Professora Camila propôs que, ao se projetar uma arena esportiva, devem ser considerados três pilares: a inovação tecnológica, que deve ser aplicada de forma estratégica; o design centrado no usuário, que garante que as necessidades do público, atletas e profissionais sejam plenamente atendidas; e uma gestão eficiente e sustentável, que assegura a utilização contínua e eficaz desses espaços no longo prazo.
Dessa forma, as arenas esportivas inteligentes têm potencial de se transformar em verdadeiros centros de inovação urbana, capazes de impulsionar o desenvolvimento social, turístico e econômico das cidades, garantindo que os investimentos feitos para sua construção repercutam positivamente por muitos anos.
Governança corporativa e compliance
O advogado Hítalo Henrique do Amaral Silva, sócio do escritório WFaria Advogados e professor de governança corporativa e compliance na Faculdade Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, explicou que governança corporativa envolve o relacionamento de todas as partes interessadas numa organização, como sócios, conselhos, diretoria, órgãos de fiscalização, controle, colaboradores etc.
“A figura da governança corporativa surgiu num contexto muito mais empresarial; hoje em dia o conceito tornou-se mais amplo. Governança corporativa nada mais é que um arcabouço de normas de processos internos que buscam levar à melhor decisão que respeite todos os interessados na organização, não exclusivamente diretores ou membros da organização, mas toda a sociedade.”
Amaral Silva mostrou a importância garantir a representatividade dos interesses coletivos, prevenindo práticas corruptas, assegurando a prestação de contas dos recursos da organização e promovendo a participação democrática dos membros nas decisões da entidade de gestão.
A apresentação do professor da FGV mostrou que os fundamentos do programa de compliance são: código de conduta e políticas de compliance; avaliação de riscos; suporte da alta administração; controles internos; treinamento e comunicação; canais de ética e ou denúncia; investigações internas; due diligence; monitoramento e auditoria e diversidade, equidade e inclusão.
Longevidade Expo Fórum
Walter Feldman, que exibe extenso currículo como homem público, falou sobre seu atual projeto: o Longevidade Expo Fórum. Trata-se de um evento que reúne especialistas, empresas e players do setor para discutir as oportunidades e desafios do mercado sênior.
Formando em medicina em 1977, Feldman iniciou sua trajetória política em 1983, quando foi eleito vereador tendo como base de trabalho projetos que priorizavam o meio ambiente, crianças e adolescentes. Foi deputado estadual e exerceu várias funções no Executivo municipal e estadual. Em abril de 2015 assumiu o cargo de secretário-geral da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).
Feldman enfatizou a importância de promover a longevidade e alcançar uma melhor qualidade de vida, destacando que são indispensáveis: 1) a prática regular de atividade física e esportes; 2) o consumo adequado de água; 3) uma boa noite de sono, com pelo menos 8 horas de descanso; 4) uma alimentação saudável e variada; e 5) a sociabilização e o convívio regular com outras pessoas.
O Fórum São Paulo da Longevidade é um encontro anual de líderes, especialistas e interessados que buscam discutir desafios e oportunidades em torno do fenômeno do envelhecimento populacional. Com palestras, painéis e workshops, o evento aborda temas como saúde, bem-estar, tecnologia, inclusão social e políticas públicas, visando a promover uma visão positiva e ativa do processo de envelhecimento.
A 6ª edição do Fórum São Paulo da Longevidade realiza-se de 29 de setembro a 1º de outubro de 2024 no Novo Distrito Anhembi em São Paulo. Maiores informações: https://longevidade.com.br/
LALIGA Academy
Paulo Davi Nascimento, publicitário e profissional de marketing, e Wagner Santos Júnior, advogado especializado em gestão esportiva, apresentaram a LALIGA Academy, instituição internacional que trabalha o refinamento técnico de jovens de 14 a 18 anos com talento para o futebol.
Paulo Nascimento explicou que os programas de treinamento da LALIGA destinam-se a jogadores que desejam aperfeiçoar suas habilidades e técnicas com a bola sob a metodologia da LALIGA. “Com treinamentos adaptados a cada faixa etária e nível de habilidade, a LALIGA oferece os melhores profissionais e recursos para garantir uma experiência única”, disse o empresário.
“Todos os nossos programas são respaldados pelos melhores treinadores e profissionais, tendo sido projetados com base no know-how e no conhecimento adquiridos ao longo dos anos pela experiência no futebol espanhol”, acrescentou Wagner Santos.
“Oferecemos diferentes programas voltados para jovens jogadores, baseados em uma programação global estruturada em quatro pontos fundamentais: futebol, educação, cultura e entretenimento, com a experiência da LALIGA”, concluiu Paulo Nascimento.
Para mais informações e contato acesse:
Municipalização do esporte escolar
Luiz Delphino, doutor em Educação Física, diretor da Federação Internacional do Esporte Escolar e dirigente da Federação do Desporto Escolar do Estado de São Paulo (Fedeesp) falou sobre a
pujança do esporte escolar brasileiro, destacando tratar-se de um universo totalmente diferente do alto rendimento.
O Brasil é uma potência do esporte escolar mundial e está no top 3 dos cinco últimos Jogos Mundiais Escolares, revelou Delphino. Na primeira participação a Confederação Brasileira do Desporto Escolar (CBDE) levou 30 atletas apenas; na última, realizada na Normandia, eram 344, a maioria de São Paulo, e em outubro a delegação que vai ao Bahrein levará 400 crianças.
Entre outros resultados mostrado pelo dirigente destacam-se os seguintes títulos mundiais: tricampeonato de futsal sub 17, campeão de natação sub 15 e sub 17, campeão de futebol de campo, de judô e de karatê, vice-campeão de vôlei de praia, vice-campeão de vôlei e campeão de atletismo. “São Paulo domina a participação escolar no mundo por conta do trabalho que é feito nas escolas, associações e clubes”, assegurou.
O dirigente lembrou que em função da expressividade internacional do Brasil em 2021 foram retomados os JEBs, que em sua primeira edição reuniram 8 mil crianças em um desafio logístico gigantesco. Este evento vem sendo realizado anualmente e em todas estas edições São Paulo foi campeão geral do certame.
Luiz Delphino ressaltou, entretanto, que o esporte escolar atende somente 10% das crianças no Estado de São Paulo e, segundo ele, a mudança desse quadro passa pela municipalização da atividade. “Dentro da Fedeesp temos hoje um milhão de crianças de 3.500 escolas de 359 municípios atuando anualmente, ou seja, ainda temos 300 prefeituras para colocar no jogo e mais 9 milhões de crianças para inserir nesse processo.”
E como conseguir isso? “Colocando mais recursos no esporte. Ou a gente promove de fato uma mobilização política para obter os recursos necessários para a transformação social que todos nós desejamos ou nada vai acontecer. Estes recursos têm de ir para os municípios investirem na difusão da prática esportiva, sem o que não sairemos do lugar que nos encontramos.”
Gestão modelo
Uma das palestras mais impactantes do congresso foi ministrada pelo professor José Carlos Gomes de Oliveira, presidente da Federação Paulista de Karatê (FPK), que descreveu o excelente momento vivido pela instituição e lembrou sua trajetória pessoal no karatê.
"Pratico karatê há 43 anos e, para chegar à presidência, passei por todas as fases da administração. Fui atleta da seleção brasileira por 14 anos, conquistando títulos importantes, incluindo várias medalhas de ouro em campeonatos estaduais, nacionais e sul-americanos e um vice-campeonato mundial. Atuei como técnico da seleção brasileira até os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007. Posteriormente, ocupei a vice-presidência e, mais tarde, fui eleito presidente da FPK."
Hoje, a FPK reúne cerca de 43 mil federados, incluindo atletas e praticantes não competitivos. "Temos aproximadamente 600 clubes filiados em mais de 400 municípios do Estado de São Paulo. Organizamos eventos para todas as faixas etárias e contamos com milhares de professores, técnicos, árbitros e um staff técnico-administrativo expressivo. Além disso, mantemos estreita colaboração em projetos sociais com diversas secretarias municipais.”
O dirigente ressaltou a importância das parcerias público-privadas no crescimento da modalidade. "Graças ao apoio da Secretaria de Esportes do Estado de São Paulo, levamos várias etapas do campeonato paulista para o interior, democratizando e impulsionando a prática do karatê. O suporte recebido, seja da SEESP ou por meio de emendas parlamentares, tem sido crucial para o fomento do esporte, especialmente em nossa modalidade."
José Carlos concluiu enfatizando que as parcerias devem incluir crianças e jovens em situação de vulnerabilidade, proporcionando a inserção deles em projetos esportivos ou culturais. "Esse é o legado que a SEESP, os parlamentares que nos apoiaram com emendas e a FPK deixam para as futuras gerações de gestores, promovendo a disseminação e a democratização da prática esportiva para milhares de crianças."
Desafios da gestão: orçamento e planejamento
Economista, graduando em Educação Física e mestrando em biodinâmica do movimento e esporte pela Unicamp, Fernando Vanin, secretário municipal de Esportes e Lazer de Campinas, expôs a fragilidade da pasta, que muitas vezes é utilizada como moeda de troca partidária durante períodos eleitorais. Ele ressaltou que, frequentemente, pessoas sem conhecimento ou capacitação adequada são nomeadas para cargos de chefia, resultando em enormes prejuízos para o setor.
“A Secretaria Municipal de Esportes e Lazer está atrelada à educação, à saúde e à segurança pública. Mas, quando ocorre a dança das cadeiras, percebemos que a pasta não recebe a importância que deveria ter”, desabafou.
Vanin destacou que, nos últimos 22 anos, a secretaria campineira teve seis secretários, alguns dos quais não estavam preparados para a função. "Temos um orçamento de apenas 0,44% de uma prefeitura com R$ 9,3 bilhões. Isso faz com que muitas vezes lutemos entre nós mesmos, sem conseguir avançar. E o pior de tudo é que essa falta de recursos reflete o conceito que os entes públicos têm sobre o esporte, seja em nível municipal, estadual ou federal. É um pensamento enraizado na administração pública."
O secretário também enfatizou a dificuldade em alterar essa percepção: "A pressão dos munícipes é muito grande, e quando tentamos ampliar o orçamento no planejamento da prefeitura, percebemos a real importância que os agentes públicos atribuem à nossa área. O discurso de que o esporte é saúde, que educa e transforma, é muitas vezes apenas retórico, porque, na prática, isso não se reflete no orçamento."
Vanin explicou que o gerenciamento do orçamento público envolve seguir regras rígidas que muitas vezes impedem até parcerias com federações e confederações. "Quando assumimos a gestão, herdamos o planejamento da administração anterior. Trabalhar com a terceira idade, por exemplo, é um desafio constante.”
Muitas entidades procuram a prefeitura para realizar eventos, mas isso depende de planejamento e de projetos bem elaborados com contrapartidas claras para o município e a população, acrescentou o secretário. "Alguns dirigentes desconhecem as dificuldades orçamentárias e não se adequam ao necessário. Todos querem ser atendidos, mas esquecem que temos apenas 0,44% daquilo que nosso município arrecada anualmente."
Pioneirismo e excelência
O I Congresso de Administração Pública e Privada do Esporte terminou com uma palestra apresentada pelas professoras Cacilda Mendes dos Santos Amaral e Giselle Helena Tavares. Ambas doutoras e referências em suas áreas, Cacilda, professora da Faculdade de Ciências Aplicadas da Unicamp em Limeira, e Giselle, professora de Educação Física e Fisioterapia da Universidade Federal de Uberlândia, relataram o excelente trabalho desenvolvido pela Associação Brasileira de Gestão do Esporte (Abragesp).
Fundada em 2009, a Abragesp tem como missão incentivar a produção e estimular a disseminação de conhecimento na área da gestão do esporte no Brasil. A entidade reúne associados de todas as regiões do País, incluindo estudantes que realizam suas atividades acadêmicas no exterior, formando uma comunidade dedicada a transformar a gestão esportiva por meio do saber.
"Nossa visão é ser uma entidade de referência na disseminação do conhecimento em gestão esportiva no Brasil, unindo profissionais, professores, pesquisadores, acadêmicos e estudantes da área," afirmou a professora Cacilda, também presidente da Abragesp.
Ela mencionou ainda a diversidade de membros, incluindo professores, pesquisadores e profissionais de várias áreas, como educação física, economia, administração, esporte, lazer, turismo e empreendedorismo.
A professora Giselle Tavares reforçou a importância da produção de conhecimento, um tema amplamente discutido durante o evento. "A Abragesp defende a produção de conhecimento como meio para fomentar as práticas de gestão esportiva tanto no setor público quanto no privado. Vimos diversas entidades não governamentais aqui, que estão na linha de frente da organização esportiva, e buscamos dialogar com elas para fortalecer o elo entre a produção acadêmica e a prática da gestão esportiva."
Giselle também ressaltou a relevância da Abragesp no cenário acadêmico e prático do esporte no Brasil, destacando a necessidade de articulação entre o conhecimento produzido nas universidades e as práticas implementadas nas instituições de gestão esportiva.
Entre as várias iniciativas da Abragesp, Cacilda destacou a revista científica da entidade, um periódico de acesso aberto que se tornou um dos principais canais de disseminação de pesquisas em gestão esportiva no Brasil. "Além de artigos científicos, nossa revista Gestão e Negócios do Esporte publica relatos de experiências. Convidamos todos, especialmente os secretários de esporte que estão na linha de frente, a compartilhar suas práticas de sucesso conosco. Essa troca de conhecimento é fundamental para o avanço da gestão esportiva no Brasil", concluiu Cacilda.
As professoras apresentaram os parceiros da Abragesp em todo o Brasil, grupos de pesquisa focados na captação de recursos, e destacaram o Congresso Brasileiro de Gestão de Esportes, que já está em sua 14ª edição.
Inovar é preciso
Mauzler Paulinetti, secretário-executivo da Asemesp e mentor do I Congresso de Administração Pública e Privada do Esporte, destacou a atualização dos agentes públicos como uma das principais propostas do encontro.
“Buscamos passar informações atualizadas aos secretários municipais de esporte, gestores e dirigentes esportivos porque hoje é necessário ter rapidez e celeridade no atendimento de uma sociedade cada vez mais bem preparada e seleta. Um bom exemplo disso são as modificações na lei de licitações implementadas há dois anos, que entraram em vigor agora. Então, é algo novo que muitos ainda não dominam.”
Além disso, Paulinetti mencionou a prestação de contas do poder público e das entidades do terceiro setor como um cuidado que se deve ter quando se associam em projetos de qualquer natureza. “Os técnicos responsáveis pela fiscalização são muito rigorosos, daí a importância desse tema.”
Ele avalia que o principal objetivo do primeiro congresso – levar conhecimento a um segmento esportivo – foi amplamente alcançado. “Acabamos recebendo um número de participantes superior ao esperado, presencialmente e de forma virtual.”
“Tenho certeza de que temos um novo marco de entidades que possam ter o suporte da Asemesp. Desde 2021 temos buscado acolhê-las e cumprir nosso compromisso: realizar eventos como este primeiro congresso”, prosseguiu Paulinetti.
Ele lembrou que a entidade tem levado semanalmente informações aos secretários municipais sobre o que acontece não só no Estado de São Paulo, na esfera legislativa, mas no âmbito federal porque são decisões que vão impactar com certeza na administração.
“Dentro desse processo, temos o PodiumCast, um canal de interlocução para que os secretários apresentem seus trabalhos, as dificuldades encontradas e os resultados obtidos. Com isso estamos construindo pontes visando a agrupar e unir os secretários municipais de esporte dos 645 municípios de São Paulo, com o objetivo de estabelecer políticas públicas perenes que impulsionem o esporte paulista.”
Paulinetti demonstrou satisfação por receber vários expoentes do esporte e poder reconhecer e premiar o trabalho realizado por eles em prol do esporte do Brasil, bem como de várias organizações que “não medem esforços para fomentar o esporte, a cultura e a educação, na busca constante de uma sociedade mais homogênea e justa.”
O dirigente lembrou que até 2021, quando a Asemesp foi constituída, não existia nenhuma entidade que pudesse fazer o que ela faz. “Então, o reconhecimento do que nós fizemos e estamos fazendo é indiscutível, seja do segmento público ou privado.”
Por meio de parcerias, Paulinetti promete abrir novas frentes e atuar com maior protagonismo, em curto espaço de tempo, para levar cada vez mais informação e prestar o maior subsídio possível aos responsáveis pela pasta do esporte nos municípios paulistas. “Tanto o Prêmio Cidade Esportiva do Estado de São Paulo quanto o I Curso de Administração Pública e Ciências no Esporte são uma pequena amostra daquilo que pretendemos proporcionar aos nossos filiados.”
Homenagens
Durante o I Congresso de Administração Pública e Privada do Esporte, a diretoria da Asemesp prestou homenagens a medalhistas olímpicos que enalteceram o nome do Brasil no cenário internacional, assim como a autoridades políticas e esportivas, dirigentes de entidades do terceiro setor e líderes sindicais. Essas homenagens ressaltaram a contribuição significativa desses indivíduos e instituições para o desenvolvimento do esporte e a promoção de valores sociais, destacando suas atuações focadas tanto no âmbito esportivo quanto socioesportivo.
Para acessar a pasta de fotos da primeira edição do Congresso de Administração Pública e Privada do Esporte clique AQUI.
METADESCRIÇÃO
Encontro inédito aponta o caminho para criação e implementação de políticas públicas que impulsionem a gestão esportiva de forma permanente e sustentável no Estado de São Paulo.
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